A escola se tornou um espaço aberto às manifestações da sexualidade, um lugar de debate.
A Escola Estadual Antonio Cristino Cortês, em parceria com a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), realiza neste semestre um curso de capacitação para professores, técnicos e palestras para alunos. A proposta é a orientação e discussão das diversas expressões sexuais dentro do espaço escolar
Segundo a coordenadora do colégio, Lúcia Schneider, é na escola que os problemas referentes à sexualidade estão todos manifestos: do preconceito à homofobia. Para ela, o colégio público deve saber gerir esses problemas para se tornar um lugar plural.
O curso debate problemas de gênero e sexualidade a partir de comportamentos de professores e alunos. A finalidade é romper com os preconceitos e agressões morais que ocorrem, especialmente, dentro do ambiente escolar.
O motivo da criação do curso é a presença de lésbicas, gays e bissexuais dentro do colégio, estimulando as chacotas e as ofensas dentro das salas de aula. O ex-aluno e integrante do projeto, Maxwell Pereira Barbosa, que já sofreu alguns preconceitos dentro da escola por ser homossexual, relatou que o Cristino Cortês é especial para o projeto porque convivem diferentes pessoas: gays, heterossexuais, religiosos, deficientes físicos e etc.
A partir disso e compreendendo a profundidade desse problema, o colégio resolveu trazer uma pessoa para capacitar os professores, “uma pessoa que estivesse trabalhando com essa temática e essa pesquisa”, relata a coordenadora.
EDUCAR NA DIVERSIDADE É O TEMA DO CURSO
Solicitado pela direção do Cristino Cortês, o professor da UFMT Neil Franco colocou em prática o curso de extensão “Educar na diversidade: da homofobia à educação popular” que é desenvolvido pela Associação Homossexual de Ajuda Mútua (SHAMA) em parceria com o Programa de Formação Continuada em Educação, Saúde e Cultura Populares da Universidade Federal de Uberlândia. O objetivo é estimular debates que façam com que professores(as) percebam a importância da diversidade sexual presentes nas escolas para que certos preconceitos sejam desfeitos.
O projeto tem como base a reflexão das maneiras de educar falando de sexualidade e gênero. Diante desse caminho, o professor Neil Franco encontrou como barreira a maneira de como é tratado o sexo em sala de aula. Para ele, uma educação a partir da sexualidade deve ir além de cartazes de prevenção da AIDS ou doenças sexualmente transmissíveis. “Não podemos falar só de sexualidade e sexo sem contextualizar a questão de gênero histórico-socialmente construído”, disse.
A EDUCAÇÃO SEXUAL VERSUS RELIGIÃO
Com relação aos casos homossexuais que ocorrem dentro do colégio, tanto a direção quanto a coordenação possuem uma posição neutra, sem preconceito ou pré-julgamento, relata o ex-aluno Maxwell.
Essa conduta da escola em relação aos casos possibilitou uma inovação no processo educacional mato-grossense: a solicitação de um curso de capacitação para professores e técnicos, através da UFMT, que possibilite uma nova orientação aos educadores quanto aos seus comportamentos dentro do ambiente escolar.
Segundo Maxwell, “este curso é fundamental para os alunos e principalmente para os professores, pois permite uma socialização e um respeito melhor entre funcionários e alunos, potencializando a educação”.
Com essa iniciativa, um dos problemas mais enfrentados pelos organizadores do projeto é a dificuldade das pessoas próximas à escola entenderem a presença do curso. A coordenadora do Cristino Cortês relatou que alguns pais religiosos fizeram algumas críticas, pois acreditam que o debate impulsionaria as práticas homossexuais, o que impediu a presença de alunos nas palestras.
Outra dificuldade apontada pela coordenadora do colégio é a intensa crítica de religiosos da cidade em relação à postura da escola diante das manifestações sexuais dos alunos, também entendendo o curso como um incentivo às práticas condenadas pela religião.
Diante desses problemas, a segunda etapa do curso será desenvolvida apenas para alunos que queiram participar das palestras e debates. “Estamos pensando em abrir inscrições para os interessados, embora não seja a forma mais correta de lidar com essa situação”, conta a Lúcia Schneider.
“A escola é uma das instituições que constituem os indivíduos. Não tem como desvincularmos a escola da sociedade”, narra Neil Franco.